8 de dezembro de 2007

E Agora José?

Tecnica mista sobre contraplacado - 75cmx120cm - Fevereiro 2007
JOSÉ

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Carlos Drummond de Andrade
anA marques, jose socrates, anApintura, josé cardoso pires nasceu em vila de rei, 21 de março dia mundial da poesia

15 comentários:

AGRY disse...

José Sócrates pode ser um guloso de tecnologia, um amante desvairado de cibernética, um "animal feroz", como se definiu numa preguiçosa e insensata entrevista ao Expresso. O que José Sócrates não é, sabemo-lo todos - e todos os dias: nem socialista, nem grande político nem grande primeiro-ministro.
Baptista Bastos
Voltarei, espero, a esta postagem
Agry

Anónimo disse...

Muito oportuno, Drummomd ,grande homem, grande poeta.
Complemento ao post.
...............
...O poema foi publicado em 1942, ano de atuação do Estado Novo no Brasil. Desse fato decorre uma série de acontecimentos políticos e econômicos que irão assinalar a sociedade brasileira, tais como a repressão política; o preconceito institucional; a precariedade das condições de trabalho; a modernização industrial; a implantação e a afirmação de condutas autoritárias; a urbanização dispersiva. Esses acontecimentos tornam-se agravantes da situação de miséria enfrentada pela população e resultaram em uma disjuntura social. Desta, originou-se, principalmente, a desigualdade de privilégios concedidos à sociedade, intensificando, ainda mais, a formação de classes opressoras e oprimidas.

A figura de José vem nesse poema, justamente como representação de um problema coletivo. O poema todo está centrado na reflexão sobre a existência de José que resiste e segue vivendo. Começa e termina de forma interrogativa o que vem enfatizar o problema do direcionamento da existência....
ler mais em http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20071130113601AA4nD0k
Abraco
João

Anónimo disse...

hum!...hum!
Politica... não creio .
Abração
JL

anA disse...

Será?...Não será?
Na pintura temos liberdade para a interpretar como queremos e sentimos. Todos podemos olhar de forma diferente. Daqui a muitos…, muitos…, anos quando, e se, estas pinturinhas forem objecto de estudo, (risos) talvez se venha a saber porque terei pintado o “E agora José”
Agry, João Ratão, JL, Obrigada pela vossa presença
anA

Anónimo disse...

anA
Muito bem esgalhado.
Forte cromatismo pictórico. Fiquei a contemplar.
Voltarei… pode crer.

M.O.

Fabiano Roberto disse...

muitas vezes é preciso mais coragem pra viver que para morrer...

e continuando o texto
Mas você não morre,
você é duro, José!

apesar de tantas coisas contra continuamos vivendo e lutando, só não sei se por opção ou por falta dela...

anA disse...

Ao Orey
Agradeço o simpático comentário.
Fico a aguardar ...
anA
----------------

Fabiano Roberto
Viver e lutar, é para mim, a opção escolhida.
Obrigada pelo comentário e pela disponibilidade quando recorri aos seus conhecimentos nestas andanças. (blogs) .
Um abraço
anA

Anónimo disse...

Ana, muito bonita a sua tela, eu nunca imaginei esse poema retratado de uma forma tão carregada, com cores escuras e um vermelho-sangue. Mas, a originalidade vale o elogio, parabéns. Eu vejo o E Agora José, como uma reclamação sutil, uma provocação. Não acho que Drummond se ponha no lugar de José, ele provoca, cutuca José. E ao mesmo tempo, reconhece a sua força, seria tão mais fácil se os Josés não existissem, pórém eles existem, e não morrem fácil.

anA disse...

José Rodolfo
Agradeço a sua visita e comentário.
Dos poemas dos grandes poetas tenho vindo a usar os poemas na totalidade quando me identifico com eles,quando isto não acontece uso/procuro unicamente um verso, é o caso neste trabalho.
Volte sempre
anA

Paula Pereira disse...

Olá
Passa no meu blogue tenho um miminho para ti.
Beijos


Paula

Anónimo disse...

anA
Cheguei ao seu blog por acaso nesta madrugada fria que me tirou o sono ,fiquei a observar... saí.
Volto agora . O poema... as silhuetas femininas tão bem colocadas... as cores fortes e vibrantes... Vibrei com o seu trabalho!
A.J.

anA disse...

AJ
Obrigada
Volte sempre
anA

E agora José? disse...

Ana. Voltei, e esse seu José me parece tão mais original e extraordinário do que a minha visão do meu Josézinho... Você vê muito mais além do óbvio, do tato de minhas digitais que teclam. Meus olhos estão nos dedos, você os colocou no lugar deles, obrigado. Por essas e outras, seria possível eu usar essa imagem no meu blog?

anA disse...

olá, E Agora José

José claro que pode usar a imagem.
Obrigada pelo seu regresso.
anA

Anónimo disse...

Sou, José. Muito obrigado Ana. E sempre que der, dou uma passada por aqui.