28 de novembro de 2008

Não quero nada do acaso, senão a brisa na face

Tecnica mista sobre tela - 60x150 cm - ano 2001


Aqui na orla da praia, mudo e contente do mar,
Sem nada já que me atraia, nem nada que desejar,
FaE nunca terei agonia, pois dormirei de seguida.
rei um sonho, terei meu dia, fecharei a vida,

A vida é como uma sombra que passa por sobre um rio
Ou como um passo na alfombra de um quarto que jaz vazio;
O amor é um sono que chega para o pouco ser que se é;
A glória concede e nega; não tem verdades a fé.

Por isso na orla morena da praia calada e só,
Tenho a alma feita pequena, livre de mágoa e de dó;
Sonho sem quase já ser, perco sem nunca ter tido
E comecei a morrer muito antes de ter vivido.

Dêem-me, onde aqui jazo, só uma brisa que passe,
Não quero nada do acaso, senão a brisa na face;
Dêem-me um vago amor de quanto nunca terei
Não quero gozo nem dor, não quero vida nem lei.

Só, no silêncio cercado pelo som brusco do mar,
Quero dormir sossegado, sem nada que desejar,
Quero dormir na distância de um ser que nunca foi seu,
Tocado do ar sem fragrância da brisa de qualquer céu.

Fernando Pessoa
anA marques, artista plastica, poesia, poesia pintada, dor, sofrimento,poeta maior

18 de novembro de 2008

Quadro Negro

Técnica mista sobre madeira - 80x100 cm - ano 2007




Estou desapontada.
Como foi possível
ter escolhido
um caminho assim?

Como foi possível
não ter ninguém
para me iluminar?

Já faz tempos,
que as carícias que tenho
são as frescas
e saborosas
lágrimas
pelo rosto a rolar.

Umas morrem
pelo caminho.
Outras,
as mais robustas ,
desmaiam nos seios

Como foi possível
eu acreditar
eu aceitar
eu ajudar
eu desculpar
eu desejar
eu amar

Como vai ser possível
continuar?


11 de novembro de 2008

O Amor Pulou o Muro


Acrilico sobre tela-80x60 cm


Amor é bicho instruído
Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que escorre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem
às vezes sara amanhã.
às vezes não sara nunca.


o amor pulou o muro sempre e ao longo dos anos destruindo tudo e todos.

3 de novembro de 2008

Semeei lágrimas


Aguarela sobre papel canson- 30x20 cm Julho 2008


Semeei lágrimas pelas ruas
da minha cidade.
Por cada semente
renascia a esperança
por um futuro sorriso

Passaram os anos
e eu continuei.
Semeei .semeei,
semeei lágrimas pelas ruas
da minha cidade.

Não semeies!.... de nada vale!
Diziam-me:.
terra minada, infértil
nada vinga.

As tempestades sucediam-se
as sementes apodreciam,
mas eu não desistia
de descobrir porque
os meus sorrisos não nasciam.

Há amigos, que afinal o não são.
Vinham por trás e
pulverizavam com a perversidade,
espetavam muita maldade
e só os deles floresciam
e os meus sorrisos morriam.

Para grandes pragas
grandes curas
mudar de terra, afagar ,adubar
regar, mas
Nunca desistir de semear.