colagem - 80x60 cm - ano 2008
COLAGEM
Técnica das artes visuais e plásticas que permite produzir uma obra de arte recorrendo a vários materiais, geralmente dissemelhantes entre si, reagrupando-os num todo para comunicar um novo sentido. Picasso e Braque foram os primeiros cultores plásticos da colagem, inaugurando uma nova estética da fragmentaridade e da surpresa, explorando todas as possibilidades do cubismo. O material de suporte da colagem, que não se restringe já às artes visuais e plásticas, chegando à literatura, pode incluir: recortes de jornais e revistas, etiquetas, rótulos, bilhetes de espectáculos, receitas várias, etc. Trata-se, pois, de um conceito que necessita da citação e do pastiche. Trata-se, em primeiro lugar, de um acto de reapropriação de elementos preexistentes, mas que, isolados entre si, não formam um sentido. O artista procede à colagem não para recuperar um sentido perdido ou oculto, mas, muitas vezes, para parodiar sentidos esperados ou convencionais. A criação de uma colagem raramente tem como objectivo a restauração ou remediação de um sentido: visa antes a desintegração, a ruptura e o choque visual com os sentidos reconhecidos nos elementos colados.
Embora o recurso a alusões possa ser considerado uma forma de colagem, tão antiga quanto a própria literatura, esta técnica desenvolveu-se em particular no século XX, a partir das experiências cubistas, futuristas, dadaístas, surrealistas, e de todas as formas experimentais de arte, incluindo a literatura. Alguns textos exemplares da literatura modernista exploraram esta possibilidade criativa, por exemplo, Ulisses, de James Joyce, The Waste Land, de T. S. Eliot ou Cantos, de Ezara Pound; Apollinaire e Saint-John Perse recriaram-se com colagens dos seus próprios textos; Robert Francis também nos deu um bom exemplo de colagem literária no seu “Silent Poem”, onde agrupa palavras com forte sonoridade e grande impacte visual. Na literatura portuguesa, podemos ilustrar a técnica da colagem com o poema de Almada Negreiros «Mima-Fatáxa - Sinfonia Cosmopolita e Apologia do Triângulo Feminino». Trata-se de um texto declaradamente futurista, apoiado por um grafismo de vanguarda e que, provocadoramente, escolhe para tema os amores homossexuais de uma bailarina que Almada conhecera em Paris e cujo nome é uma colagem de estrelas parisienses:
Texto de Carlos Ceia
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